Adorno tem sido uma das referências centrais no curso de Literatura e Educação da USP, principalmente porque ele defende a importância da educação no mundo pós-Auschwitz e a emancipação do indivíduo pelo conhecimento. A sua conclusão principal é a necessidade de mais razão, e não menos, para que situações análogas às vividas na Segunda Guerra Mundial não se repitam na história da humanidade.
A referência a Adorno e a toda Escola de Frankfurt como espinha dorsal do curso pode apontar para uma interpretação equivocada de educação. Primeiramente, porque a Escola de Frankfurt pressupõe uma espécie de passividade e acriticidade do indivíduo frente às estruturas sociais. Esse ponto pode ser suavizado pela argumentação de Adorno com relação à necessidade de emancipação do indivíduo por meio da educação, mas não anula a noção de que somente uma educação formal pode levar à isso. O sociólogo, dessa forma, ressalta a importância da educação sem apresentar um método eficaz ou estratégias a serem colocadas em prática. Nesse sentido, acho problemático uma disciplina de licencatura tomar somente seus textos como referência teórica, reforçando o papel do professor mas não dando ferramentas para que seu trabalho seja desempenhado.
No entanto, a principal questão que me incomodou nas leituras de Adorno é a possibilidade de interpretar a posição do professor como sendo a fonte de conhecimento, e não um mediador. Fica implicado que o professor possui uma capacidade iluminadora e emancipadora em relação aos seus alunos, o que sempre me pareceu uma postura intelectual que na verdade os distancia. Em outras palavras, a leitura deixa margem para pessoas despreparadas interpretarem a função do professor como aquela pessoa que possui todo o conhecimento a ser transmitido aos alunos, eliminando o aspecto dialógico dessa experiência e a forma como os alunos contribuem com o professor e com as aulas.
Talvez seja necessário rever a forma como são abordados determinados conteúdos no currículo das disciplinas de licenciatura, para que elas não sejam apenas um emaranhado de referências teóricas consagradas, Adorno incluído, e se transformem em espaços de discussão um pouco mais voltados para prática. Essa, a meu ver, parece ser a grande esfinge a ser decifrada pelos atuais alunos, futuros professores. Afinal, que professor recém-formado sabe exatamente se a forma como ele aborda os conteúdos é a mais eficaz ou aquela que melhor contribui para a formação de seus alunos?
Existe a possibilidade que a reflexão apresentada aqui não leve a nada e seja só paranóia da minha cabeça.
Vai saber...
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
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