quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Não fui abandonado!

Gente, só para registrar, eu não abandonei o blog. Férias, final de ano, vida agitada dá nessas coisas. Nos vemos em 2010!! Com mais textos, entrevistas e pautas diferenciadas!

beijo grande! inté!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Dicas de leitura organizada por idade podem auxiliar professor e pais

Existe sempre uma dúvida no ar quando pais levam seus filhos para comprar um livro em alguma livraria ou professores fazem planejamento de aula para o próximo ano. Vai então uma dica: A Fundação Victor Civita, vinculada a Editora Abril, tem várias iniciativas voltadas para Educação, entre elas dicas de livros que podem ser lidos por crianças e jovens de 02 a 18 anos, publicadas no site do projeto "Educar para crescer". O projeto engloba diversas atividades, como o desenvolvimento de blogs, material didático e textos sobre aprendizagem e leitura com orientãções para os pais.

Ainda não dei uma lida no material que me mandaram, mas estou divulgando o site porque existe a possibilidade de alguém fazer bom uso dessas informações. Para quem não sabe, a editora Abril é responsável pela publicação da revista Nova Escola. Outra possível fonte, que eu também não cheguei a ver ainda.

Se mais alguém souber de alguma coisa legal, é só mandar...

ps: Lulu, querida, obrigada pela dica!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Mais notícias!

Ministério da Educação manda projeto para o Congresso para alterar a legislação, estabelecendo idade máxima em 6 anos para a criança entrar na escola pública ou particular no primeiro ano do ensino fundamental. Atualmente, cada Conselho Estadual de Educação é responsável por fixar essa idade. O problema apresentado pela matéria é que muitos alunos, com a mudança do sistema (1a a 8a série para 1 a 9 ano), devem acabar o ensino fundamental aos 15 anos.

Embora a resolução possa representar uma mudança para muitos alunos, não sei se ela seria significativa. Não consigo enxergar como a medida seria um problema, propriamente dito. (Se alguém conseguir, por favor me explique). Se for meramente uma questão de idade, talvez seja melhor que os alunos cheguem mais maduros ao ensino médio, tendo mais tempo para pensar sobre carreiras e profissões possíveis. Em termos práticos, em nada vai alterar a vida da classe média ou alta. Talvez interfira nas classes sociais mais desfarovecidas, afinal, a previsão é que o aluno passe um ano a mais estudando ao invés de trabalhar período integral e contribuir para as finanças da família. E essa foi a única implicação possível dessa medida em que eu consegui pensar. Alguém consegue pensar em mais alguma?? Algum comentário??

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sobre a possibilidade de fechamento da melhor escola pública, de acordo com Saresp 2008

Estava calmamente lendo a Folha, quando surgiu uma notícia completamente ilógica na minha frente: a escola estadual  de ensino médio que conseguiu melhor nota no Saresp em 2008 está para ser fechada pelo próprio governo paulista, por falta de alunos. Localizada no Butantã, a escola estadual Alberto Torres não deve oferecer aulas em 2010, sendo assim a recomendação é que pais e alunos procurem outra escola na região.
 Em outubro, pais, alunos, professores e funcionários foram convocados para uma reunião pela vice-diretora, Eunice Ramos, e um representante da Diretoria de Ensino da Região Centro-Oeste, na qual foram informados da decisão de fechamento da escola.

O jornal relata que, segundo a Secretaria da Educação do Estado, a decisão de fechamento da unidade cabe a Paulo Renato, secretário da educação, e nada está decidido ainda. Os gastos com a unidade estão sendo analisados, já que houve uma queda de 73% no número de alunos matriculados desde 2005 e há salas vazias. Segundo a reportagem, a vice-diretora Eunice Ramos não foi orientada a fazer nenhuma reunião para anunciar o fechamento do colégio.

Mais uma vez, a discussão gira em torno do aspecto mercantil da educação e em nenhum momento se questionou a razão da escola ser considerada a melhor no Saresp ou se este não seria um motivo central para manutenção do colégio. Um dos fatores que pode contribuir para a qualidade do ensino é a quantidade de alunos em sala de aula. Com classes menores, os professores podem dar uma atenção mais dirigida a cada aluno, criando uma relação mais próxima e até mesmo afetiva. Além da possibilidade dos professores terem tempo para buscar cursos de formação continuada, mestrado ou doutorado e elaborarem melhor as aulas, tendo em vista que a demanda pelo trabalho fora da sala de aula  (corrigir provas e trabalhos, por exemplo) diminuiu nos últimos anos.

Talvez existam mais fatores envolvidos, mas por enquanto não consegui pensar em nenhum. Se alguém quiser expôr seus pontos de vista, é só postar um comentário ou mandar e-mail.  

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

As Polêmicas Aulas de Religião

Uma das coisas mais cafonas da PUC é que existem aulas de religião. Confesso que tenho um senão com aulas que envolvam a temática religiosa, mas simplesmente porque acho que muita gente não sabe a distinção entre aula e pregação. Tive um ano dessas aulas: um semestre com um professor, que foi praticamente exorcizado do Jornalismo depois que passou pela nossa sala, e no segundo semestre outro.

Um das polêmicas com a aula é que faz muito tempo que a PUC é frequentada por católicos, agnósticos, ateus, judeus, umbandistas, presbiterianos e evangélicos. Tem até Bola de Neve. Enquanto a temática religiosa está restrita ao âmbito filosófico, tudo flui bem e certas questões parecem bem interessantes. Mas vai sempre depender da abordagem dada pelo professor.

O tal do professor de primeiro semestre resolveu ensinar o que era a religião católica e defender os preceitos das encíclicas, dos discursos papais. Muito retrógrado!O livro dele servia de base para discussão, mas ele insistia em tratar de temas polêmicos como aborto, uso de camisinhas e anticoncepcionais e etc. Sempre tentando cooptar pessoas a acreditar, ou pelo menos comprar, a argumentação do catolicismo. Uma vez ele até falou que aspessoas não deveriam usar camisinha ou qualquer outro método anticoncepcional porque isso ia contra as leis divinas. Os jornalistas cri-cris que estavam na sala estavam sempre caindo de pau em tudo o que o professor falava (eu era uma delas) e, depois de muita luta verbal, ele resolveu que era melhor mudar de curso. Fazia sentido...

No segundo semestre, o professor tratou de temas como: a orientalização da crença, mélange e sincretismo religioso, por quê as pessoas tem fé. Muito mais interessante, sem grandes conflitos. Metade das pessoas tinha perdido o interesse na disciplina, mas participava esporadicamente da aula. A outra metade nunca fez esforço nenhum para participar e resolveu que era melhor se concentrar em conseguir nota no trabalho de fim de semestre. Acontece...

domingo, 29 de novembro de 2009

Professor devia ser Jubilado também!!

Outro dia tive o grande desprazer de receber as instruções para o trabalho de final de semestre de uma disciplina de literatura portuguesa que eu curso na USP. Explico: as instruções do trabalho envolviam ler um livro sobre Camões escrito pelo meu professor e com os comentários de leitura da esposa, também professora da mesma disciplina. Bruta sacanagem canastrona! O melhor era que ambos estavam comentando, em sala de aula, a dificuldade de analisar obras de autores vivos. Agora imagine a dificuldade de fazer um trabalho sobre o livro do próprio professor. Peloamordedeus!

A prática parece ser recorrente e gostaria de expressar minha indignação. Existem casos que pode ser compreensível a necessidade de utilizar o material feito pelo próprio professor, por exemplo, se ele for especialista da área ou o assunto estiver relacionado com a temática da discussão. Mas, por favor, que os textos escritos pelos professores não estejam envolvidos em nenhum tipo de avaliação.

ps: Só de birra usei só material escrito por ele nas minhas referências bibliográficas, do trabalho final. Será que ele vai reclamar?? Tem alguns professores da USP que podiam ser jubilados também!

ps2: Existem professores que, muito pelo contrário, por mais que nós clamemos pelos seus textos eles discretamente "esquecem" de enviá-los. Compreensível, mas que fique registrado que quando é pedido,é porque faz sentido.

Caso alguém tenha algum caso/causo interessante, escrevam: email (reflexoesensino@gmail.com ou jusayao@gmail.com).

Ruminando Escritos Antigos

Estava revendo algumas postagens antigas, do meu outro blog, e dei de encontro com um texto sobre a Intuição. Está baseado em um texto lido e discutido em sala de aula, em uma das aulas de mestrado, mas quando eu escrevi sobre ele não me referi à Educação. Vamos à ele:

A Desmistificação Acadêmica da Intuição

A intuição foi negada pelos iluministas, positivistas e racionalistas em geral como parte constituinte do ser humano. Na era da auto-ajuda, ela se transformou em uma espécie de mantra do sexto-sentido, ligado ao místico e ao inexplicável das sensações humanas. Bem cartomancista e premonitório.


Guy Claxton, um educador inglês, propõe que as escolhas feitas no âmbito profissional sejam mediadas pela intuição, se a tomarmos como sendo a junção do processo racional de apreensão da realidade e conhecimento do mundo e do aspecto emotivo, afetivo e impulsivo da existência.


Essa nova forma de intuição seria constituída por 6 fatores:


  • Expertise: know-how, aprendido pelo estudo e pelas vivências profissionais de cada um;


  • Aprendizado: reconhecimento das variáveis envolvidas, por exemplo, na educação e no processo de ensino/aprendizagem e na formação do ser adulto (crítico, racional, emocional);


  • Julgamento: escolhas e posicionamentos adotados, capacidade de julgar as ações e os fenômenos e agir em resposta;


  • Sensibilidade: percepção aguçada das situações, das emoções, dos acontecimentos ao seu redor;


  • Criatividade e capacidade de resolução de problemas: processo de inovação, mudança e busca de soluções para as situações enfrentadas;


  • Ruminação: reflexão sobre situações, vivências, dificuldades - associada aos sonhos, à imaginação - da qual extraímos o significado e o sentido das ações e suas implicações.


De qualquer forma, segundo Claxton, é preciso tomá-la como uma nova forma de conhecimento e, para isso, é necessário estar aberto às mudanças comportamentais implicadas nessa nova abordagem. As assepções e os comportamentos derivados desse novo método deveriam ser tomados como falíveis, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, dando a dimensão de que o conhecimento é uma construção, um processo e que é preciso errar para um dia estar certo, tropeçar para poder levantar.


Fiquei intrigada porque (talvez seja impressão minha) no mundo pós-moderno as ações profissionais estão cada vez mais limitadas pela racionalização do processo, pela maquinicidade da atividade e pela linhas de produção. Será que está nos faltando essa dimensão sensitiva, emocional, esse gut feeling da intuição? Ou somos todos pragmáticos em busca de certos resultados, conseguidos pela subserviência muda aos manuais?


Isso é, então, um convite à ousadia. Não a uma ousadia absolutamente impulsiva e irresponsável, mas àquela dimensão da experimentação em que existem ponderações e autolimitações e existe ainda o espaço do desejo, da vontade, do querer.


Referências:


Claxton, Guy. 2000. The anatomy of intuition. In: The Intuitive Practioner: On the value of not always knowing what one is doing. Buckingham: Open University Press. pp. 33-52.


Guy Claxton Website: http://www.guyclaxton.com/


(Publicado em Uma Abelha Ferro(o)u Minha Campainha, site: http://abelhanacampainha.blogspot.com/ em 14/10/2009).

Agora, se pensarmos na aplicação da intuição dentro da sala de aula, podemos ter como exemplo aquele momento decisório em que uma discussão é interrompida ou instigada porque acredita-se que será frutífera (vale mais a pena deixar correr do que seguir o planejamento de aula) ou perda de tempo completo (a atividade inicialmente programada é mudada na hora). De qualquer forma, estaria relacionada à uma percepção e interpretação do momento e à ação conseguinte.

Eu imagino que muitos professores tenham experiências desse tipo que possam ser compartilhadas. Quem se sentir inclinado à relatá-las, fique à vontade:comentários e e-mails são sempre bem-vindos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

'Questões' é um termo um pouco vago...

Deu no New York Times, em 14/11: Seeling Lesson Plans Online Raises Cash and Questions. Só pelo título a matéria já me chamou a atenção, afinal, a questão financeira envolvendo a internet e a venda de planejamento de aulas parece ser algo que atrairia muita gente a tentar ganhar dinheiro dessa mesma forma, por mais que esteja indicado que a prática pode ser duvidosa.

Ao terminar de ler, eu vi que a matéria não apresentava dúvidas sobre como esse material deveria ser usado, sendo por exemplo adaptado a cada contexto, a cada sala pelo professor/comprador, mas o grande questionamento era se a propriedade intelectual dos planejamentos de aula de professores da rede pública era deles mesmo, se era correto (do ponto de vista comercial) vender esse tipo de trabalho.

Mas os meus questionamentos são mais direcionados à utilização desses planos de aula. Para alguns, parecia ser somente mais uma fonte para montar as aulas, facilitando o trabalho. Válido e compreensível, já que estava funcionando como uma espécie de relato de experiência do qual todos poderiam tirar proveito. Para outros, a impressão que se têm é a de que o material era utilizado da forma como vinha, já que "reinventar a roda" não faz sentido. E, assim, seria necessário considerar que a realidade sócio-cultural de um país tão grande quanto os EUA (e no Brasil, a meu ver, a coisa é ainda mais complicada) é diversa: alguém  pode imaginar uma professora texana dando a mesma aula que um nova-iorquino? Por que o jornal não explorou os usos desses materiais, apenas as vantagens econômicas para os professores/vendedores?

Do ponto de vista de um jornalismo preocupado com a informação e com a formação crítica dos seus leitores, faltou avaliar o problema da perspectiva de ensino/aprendizagem ou do próprio aluno. Pensando agora na visão da linguística aplicada, seria impossível pensar em um cenário educacional em que planejamentos de aula são vendidos e utilizados da mesma forma em dois ou mais locais com culturas, saberes, facilidades e dificuldades distintos, por professores completamente diferentes. Por princípio, faz parte da atividade profissional montar um planejamento de aula que leve em consideração todas as questões de contexto, na tentativa de se criar um ambiente mais confortável, agradável e propício para os alunos. Uma metodologia de ensino, por exemplo, que busque trazer elementos do cotidiano e da cultura do local para dentro da temática formal da aula.

Informações Cibernéticas

Recebi pelo twitter uma notícia curiosa: existe uma lei que torna obrigatório no ensino fundamental e médio o ensino de história e cultura africanas. Justo, já que é uma cultura influente na formação do que seria a identidade brasileira, por motivos históricos obviamente. Porém, mais importante do que dar valor à cultura de um continente pela mera inserção obrigatória no currículo, talvez fosse necessário pensar de que forma diferentes conteúdos poderiam ser trabalhados em sala de aula para que a discussão não seja apenas uma atividade que cumpra com a agenda, mas sim que instigue o raciocínio dos alunos, que traga à tona discussões em torno de temáticas como cidadania, colonização, preconceito, desigualdades sociais, combate à AIDS, fome. Ou seja, é insuficiente falar de um ensino que não seja transdisciplinar e mostre a pluralidade do mundo, as múltiplas interpretações e enfoques de estudo.

Esse assunto daria margem à inúmeras discussões... Fica uma pergunta: será que o mais importante é o quê ou o como a gente faz as coisas dentro da sala de aula? Impossível separar as duas coisas?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Escolhas Momentâneas

Eu fiz o colegial na Escola Vera Cruz, em um prédio vizinho ao enorme edifício dos correios que tem na avenida do Ceasa. Sete anos atrás, não existiam aqueles prédios mais chiques e grandes, muito menos a quantidade enorme de lanchonetes, cafés e restaurantes do outro lado da Imperatriz Leopoldina. O chão da escola queimava os pés no calor, mas era moda andar descalço para cima e para baixo, pelo menos durante o recreio.
Algumas vezes, tentando aproveitar o gostoso da primavera e do verão, alguém apresentava na sala de aula a maravilhosa idéia: Vamos ter aula ao ar livre! Era quase uma defesa do método peripatético aristotélico, não fosse também uma tentativa de diferenciar o ambiente de discussão e tomar um solzinho gostoso. Sempre tinha alguém que se responsabilizava por não bagunçar a aula, senão não teríamos mais. E sempre tinha aquele aluno com uma lábia charmosa, que tentava dobrar as reticências do professor ou professora.

Havia algo por detrás da decisão de dar a aula no pátio ou ficar em sala, o qual eu nunca tinha imaginado: será que essas aulas motivavariam disperssariam os alunos? Como fazer com que todos ouvissem e entrassem na discussão se não havia aquela organização espacial tradicional e nem mesmo a acústica. Sinuca de bico.

Bom, cada sala é uma sala, cada professor é um, então a decisão nem sempre era favorável ao que nós tínhamos proposto. Mas, quando era favorável, aprender tinha um que de leve e gostoso com o qual nem todos têm ou tinham contato. Será que modificar a estrutura tradicional, vez ou outra, não poderia ser uma estratégia para engajar mais alunos? Talvez, enquanto educadores, a criatividade tenha que estar sempre trabalhando à favor de técnicas e ações possíveis... Sem necessariamente pensar em certo e errado em termos do paradigma tradicional, mas levando em consideração como aquela determinada turma reagiria a esse tipo de ousadia.

Reflexão Póstuma

Outro dia escrevi o texto abaixo no meu outro blog (tomei a liberdade de colocar o link também), mas estava lendo e achei o tom da escrita um pouco pretencioso demais. E, durante a leitura, me ocorreu que essa pretensão toda vinha da falta de dizer algo mais importante do que simplesmente corroborar com uma política elitista, faltava defender a democratização de acesso à educação de línguas estrangeiras. Vamos ao texto:

Yes, I speak! Oui, je parle! Si, yo hablo!


Publicado em 26/09/09 no blog Uma abelha ferro(o)u minha campainha 
(http://abelhanacampainha.blogspot.com/)


Outro dia tive uma discussão sobre o uso de estrangeirismos na língua portuguesa, no meio de uma das minhas aulas de mestrado. A questão girava em torno um pouco do papel do linguista, da globalização e da multiplicação dos cursos de inglês. Até que chegamos no tal projeto de Lei do Aldo Rebelo (arquivado, ainda bem), que previa penalidades para os brasileiros que pronunciassem palavras de outras línguas que não o português, e as opiniões foram ficando um pouco mais aciradas.

Usar certas expressões é questão de poder. Falar outras línguas é questão de poder social, econômico e cultural. E, como língua em uso diz tudo como a forma como nos posicionamos perante os outros, eu estava mais do que certa de que cada usuário/falante tem liberdade para fazer da sua boca, da sua língua e da cara/face/persona social o que bem entender. Ninguém controla a boca alheia, por mais que existam penalidades envolvidas. Mas, pensando na preservação da cultura popular e na língua portuguesa, uma professora logo começou a falar que a utilização dos estrangeirismos tinha que ser questionada e debatida e as pessoas deviam ter consciência dos usos. Embora ela tenha se posicionada de forma um pouco nacionalista demais, tentando dizer que o português brasileiro era castiço, a verdade é que a posição que ela tentava defender (um pouco desastradamente) fazia sentido. Será que nós temos consciência de todos os bombardeios culturais e das mudanças que sofremos com a globalização? Não deveríamos ser um pouco mais críticos?

Pois bem, faltou dizer que, enquanto política linguística, o fato de alguém saber falar inglês ou francês acaba sendo um diferencial excludente, porque em um país de desigualdades o acesso às escolas de línguas estrangeiras são diferenciados por classes sociais. Quanto à questão do acesso, e essa argumentação remonta às aulas do mestrado "Globalização e Saber Local", me refiro também ao fato de muitos alunos não entenderem  muito bem qual a razão de se estudar inglês ou espanhol, por mais que esteja no currículo. Será que está faltando marketing para todos comprarem a idéia? Ou o marketing vai fazer com que o  discurso seja meramente repetido (como já acontece), mas não necessariamente assimilado? Quais seriam as melhores estratégias para incluir e engajar alunos das mais diferentes perfis sócio-econômicos e culturais em atividades necessárias em um mundo globalizado?

Ficam as perguntas em aberto, para quem quiser elaborar o raciocínio. Eu ainda estou ruminando...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Alguns comentários sobre o Caderno Saber - Folha de São Paulo

A Folha de São Paulo lançou na semana passada uma seção especializada em educação, denominada Saber, a ser publicada toda segunda-feira junto do caderno de Cotidiano. Os primeiros textos ( " 7 mitos da educação" e "Verdade ou Mentira" de 09/11/09) foram um gesto ousado, porque fazem um revisão de 7 pontos tidos como principais para a mudança da Educação no Brasil e tentam desmistificá-los enquanto soluções práticas eficazes, pelo menos a curto prazo.

São eles (da forma como o jornal escreveu):

1) Só pagar melhor o professor já melhora o aprendizado
2) Melhorar a infraestrutura da escola tem impacto positivo no desempenho dos alunos
3) A Progressão Continuada contribui para piorar a qualidade do ensino
4) Cursos de reciclagem para professores ajudam a melhorar o ensino
5) Gastar mais com educação é suficiente para aumentar o aprendizado dos alunos
6) A escola não pode ajudar filhos de famílias desestruturadas
7) Sistemas de ensino apostilados tolhem a autonomia do professor

Em primeiro lugar, as escolhas lexicais do texto são totalmente inapropriadas. O aprendizado, por exemplo, é algo que pode ser piorado e melhorado como se pudessemos aumentar ou diminuir o volume. Parece algo estático, perdendo a dimensão da construção conjunta do conhecimento, do seu caráter processual e dialógico, que ocorre entre indivíduos com facilidades e dificuldades. O professor, nesse sentido, deveria ser somente um mediador do conhecimento e não uma autoridade no assunto, do qual os alunos não se aproximam e não conseguem expressar seus desejos e, ao mesmo tempo, as suas necessidades de aprendizagem.

Outro problema é a utilização do termo como "famílias desestruturadas", porque parte-se do pressusposto, de que existe um padrão de família correto, estruturado, normal e perfeito. Em um mundo plural como o contemporâneo, em que pais e mães separam-se, casam-se novamente e, pode acontecer, seu melhor amigo vira seu irmão de papel passado, é impossível pensar que exista um padrão. E, mais do que isso, é impossível pensar em uma escola que não cumpra seu papel na formação do cidadão, nesse caso, consciente das mudanças comportamentais e culturais do seu tempo em relação ao passado. Aceitar o próximo e a diversidade pode ser filosofia religiosa milenar, mas isso não quer dizer que não precise mais ser ensinada. Muito pelo contrário.

A discussão em torno dos aspectos financeiros  tocou em quatro pontos importantes: salário de professor, reciclagem de professor, investimento estatal e infraestrutura. Embora elas sejam tidas como soluções ineficientes caso aplicadas isoladas, é importante pensar que a motivação do professor para realizar o seu trabalho depende (não somente, mas também) do respeito social  em torno da sua profissão, cujo parâmetro atual perpassa o valor financeiro do seu trabalho. A reciclagem e a atualização dos seus conhecimentos está necessariamente levando em consideração a sua necessidade de acompanhar as mais recentes tendências, estimulando a reflexão constante sobre a sua prática e buscando soluções para o desenvolvimento dos alunos. A infraestrutura de uma escola deveria propiciar e incentivar os alunos à buscar conhecimento, saber. O mínimo, como a substituição das escolas de lata,  proposta em projeto da prefeitura de São Paulo, deveria ser feito. Isso sem falar na implementação de computadores em áreas de fácil acesso, já que a internet tornou-se fonte de estudos e de informações globais. Obviamente que só o investimento financeiro não é suficiente, mas ele faz parte de um conjunto de ações necessárias.

Por fim, a utilização das apostilas pode ser um item facilitador da atividade do professor ao apresentar uma síntese de todos os conteúdos a serem trabalhados e propostas de atividades a serem desenvolvidas, contato que sejam utilizadas com parcimônia. Na sua sala de aula, o professor deve ter liberdade para trabalhar esses conteúdos da forma que lhe parecer mais conveniente, alterando por exemplo a ordem das aulas ou pulando algumas partes e exercícios considerados impróprios. Se a apostila for utilizada como algo complementar e não como uma muleta, ela pode auxiliar em muitos sentidos. Agora, tudo vai depender da forma como a instituição trabalha e redige a apostila, e cobra dos professores a sua utilização.

Caso alguém tenha alguma experiência positiva com apostilas e queira compartilhá-la, favor enviar e-mail para reflexoesensino@gmail.com. Eu também nãocomentei nada sobre progressão continuada porque ainda não tenho opinião formada, principalmente porque acho que cada caso é um caso. Se alguém quiser comentar algo ou contar o que acha, pode, além do email, postar um comentário abaixo!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Indignação Passageira

Outro dia, em um dos diários reflexivos que eu tenho que escrever para disciplina de Saber Local e Globalização, eu soltei a indignação de um semestre inteiro por perceber que estávamos falando somente de formação de professor (em uma disciplina voltada para esse tema) e não estávamos pensando em delegar certas tarefas para os diretores das escolas, as editoras de material didático, os psicólogos escolares e todos os outros possíveis participantes dessa estrutura de organização escolar.

Estava relendo o texto hoje e percebi que o tom do diário estava um pouco agressivo e me dei conta da aflição em que eu fiquei por discutir aspectos negativos da escola em sua atual composição e o papel do professor, porque a impressão que se tem é que no final das contas é só ele quem pode fazer as mudanças necessárias. Depois me caiu a ficha de que estávamos em uma disciplina voltada para a formação de professores e que, na verdade, a discussão colocada não eximia em nada as responsabilidades da escola e dos outros profissionais.

Mas vou me aproveitar da minha indignação para discutir outros aspectos do processo de aprendizagem, que fazem parte da vida e do cotidiano dos alunos fora da sala de aula, e estão fora da alçada do professor, sendo de responsabilidade total e irrestrita dos pais, avós, irmãos, parentes diretos, pessoas com quem as crianças/adolescentes convivem.

Às vezes eu vejo pais que não lêem uma linha do jornal ou um livro que seja e cobram que seus filhos saibam na ponta da língua as respostas de vestibular sobre "Macunaíma" de Mário de Andrade ou "Os Lusíadas" de Camões. Vamos combinar? Livros chatos ao quadrado. Mas, se esse indivíduo nunca tomou conhecimento de alguém que incorpore leituras no seu cotidiano e que mostre o valor da informação e do conhecimento na sociedade contemporânea, não vai ser o discurso do professor na sala de aula que vai mudar os hábitos do aluno. Tem certas tarefas, às vezes tidas como hercúleas, nas quais a interferência e o estímulo paternal está diretamente relacionado ao resultado final no processo de ensino/aprendizagem de crianças, jovens e adolescentes.

O esforço conjunto entre escola e família é algo reconhecidamente importante. Será que, enquanto pais e educadores, podemos começar em estabelecer um diálogo que resulte em práticas conjuntas?

O que raios é Linguistica Aplicada??

É muito comum as pessoas ficarem me olhando com cara de ué quando eu digo que faço mestrado em linguística aplicada ou quando eu tento explicar o que é que eu faço da vida. Algumas vezes eu faço piada e sigo em frente, outras eu tento explicar e me enrolo toda porque está estampado na cara do outro que não necessariamente ele quer saber ou acompanhar o raciocínio.

Mas vou tentar mais uma vez: Linguística Aplicada é uma ciência, uma área do conhecimento voltada para questões de usos da língua, educação. Todas as pesquisas desenvolvidas na área tem como ponto de partida um problema social (como o discurso constrói a realidade? como as pessoas se comunicam? como ensinar línguas, seja português ou qualquer língua estrangeira?) e a pretensão de chegar em alguma proposta para resolução desse problema.

Por ser transdisciplinar e dialogar com áreas como Filosofia, Antropologia e Sociologia, as pesquisas levam em consideração aspectos culturais e diferenças sociais relacionadas ao uso da linguagem nos seus contextos. O contexto seria, então, o espaço em que certas práticas sociais são realizadas. Está diretamente relacionado às variáveis: quem participa da interação, quem produz, a quem a comunicação é direcionada, como á mensagem é organizada para estabelecer a comunicação de forma eficaz e quais significados estão sendo compartilhados.

Será que deu para criar um quadro geral?

obs: Publicado em Uma abelha ferro(o)u minha campainha em outubro de 2009

Declaração de Intenções

Este blog é resultado de uma série de debates em torno de Educação, realizadas nas aulas de mestrado em Linguística Aplicada. Ele surgiu de um questionamento um tanto incômodo: qual é o papel da ciência e do jornalismo na divulgação, promoção e mediação de conhecimento? Como boa jornalista récem-formada, acabei achando que deveria haver um espaço fora das salas de aula para que linguistas, professores, educadores discutissem e procurassem informações, relatos, textos acadêmicos e links relacionados aos temas discutidos em  (e sobre) sala de aula. Além disso, acho que algumas informações e discussões encenadas no meio acadêmico deveriam estar mais diponíveis para o maior número de pessoas possível, fazendo com a discussão chega-se e atingisse outros âmbitos.

Os post pretendem, portanto, apresentar textos teóricos, experiências e visões de educação. Toda e qualquer contibuição para o diálogo é importantíssima: estão todos convidados a assumir um posicionamento, defender pontos de vista. Fiquem à vontade, a sala é de vocês.