domingo, 29 de novembro de 2009

Ruminando Escritos Antigos

Estava revendo algumas postagens antigas, do meu outro blog, e dei de encontro com um texto sobre a Intuição. Está baseado em um texto lido e discutido em sala de aula, em uma das aulas de mestrado, mas quando eu escrevi sobre ele não me referi à Educação. Vamos à ele:

A Desmistificação Acadêmica da Intuição

A intuição foi negada pelos iluministas, positivistas e racionalistas em geral como parte constituinte do ser humano. Na era da auto-ajuda, ela se transformou em uma espécie de mantra do sexto-sentido, ligado ao místico e ao inexplicável das sensações humanas. Bem cartomancista e premonitório.


Guy Claxton, um educador inglês, propõe que as escolhas feitas no âmbito profissional sejam mediadas pela intuição, se a tomarmos como sendo a junção do processo racional de apreensão da realidade e conhecimento do mundo e do aspecto emotivo, afetivo e impulsivo da existência.


Essa nova forma de intuição seria constituída por 6 fatores:


  • Expertise: know-how, aprendido pelo estudo e pelas vivências profissionais de cada um;


  • Aprendizado: reconhecimento das variáveis envolvidas, por exemplo, na educação e no processo de ensino/aprendizagem e na formação do ser adulto (crítico, racional, emocional);


  • Julgamento: escolhas e posicionamentos adotados, capacidade de julgar as ações e os fenômenos e agir em resposta;


  • Sensibilidade: percepção aguçada das situações, das emoções, dos acontecimentos ao seu redor;


  • Criatividade e capacidade de resolução de problemas: processo de inovação, mudança e busca de soluções para as situações enfrentadas;


  • Ruminação: reflexão sobre situações, vivências, dificuldades - associada aos sonhos, à imaginação - da qual extraímos o significado e o sentido das ações e suas implicações.


De qualquer forma, segundo Claxton, é preciso tomá-la como uma nova forma de conhecimento e, para isso, é necessário estar aberto às mudanças comportamentais implicadas nessa nova abordagem. As assepções e os comportamentos derivados desse novo método deveriam ser tomados como falíveis, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, dando a dimensão de que o conhecimento é uma construção, um processo e que é preciso errar para um dia estar certo, tropeçar para poder levantar.


Fiquei intrigada porque (talvez seja impressão minha) no mundo pós-moderno as ações profissionais estão cada vez mais limitadas pela racionalização do processo, pela maquinicidade da atividade e pela linhas de produção. Será que está nos faltando essa dimensão sensitiva, emocional, esse gut feeling da intuição? Ou somos todos pragmáticos em busca de certos resultados, conseguidos pela subserviência muda aos manuais?


Isso é, então, um convite à ousadia. Não a uma ousadia absolutamente impulsiva e irresponsável, mas àquela dimensão da experimentação em que existem ponderações e autolimitações e existe ainda o espaço do desejo, da vontade, do querer.


Referências:


Claxton, Guy. 2000. The anatomy of intuition. In: The Intuitive Practioner: On the value of not always knowing what one is doing. Buckingham: Open University Press. pp. 33-52.


Guy Claxton Website: http://www.guyclaxton.com/


(Publicado em Uma Abelha Ferro(o)u Minha Campainha, site: http://abelhanacampainha.blogspot.com/ em 14/10/2009).

Agora, se pensarmos na aplicação da intuição dentro da sala de aula, podemos ter como exemplo aquele momento decisório em que uma discussão é interrompida ou instigada porque acredita-se que será frutífera (vale mais a pena deixar correr do que seguir o planejamento de aula) ou perda de tempo completo (a atividade inicialmente programada é mudada na hora). De qualquer forma, estaria relacionada à uma percepção e interpretação do momento e à ação conseguinte.

Eu imagino que muitos professores tenham experiências desse tipo que possam ser compartilhadas. Quem se sentir inclinado à relatá-las, fique à vontade:comentários e e-mails são sempre bem-vindos.

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